quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A pergunta indiscreta

Giocond Labecca é minha amiga de trocar e-mails. Nós não nos conhecemos mas ganhei um livro seu. Ela é mineira da Campanha, que hoje vive em S. Bernardo do Campo. Suas lembranças da terra natal a levaram a escrever "Voltando ao Passado". Muito me deleitei com seus casos, porque alguns coinciram com casos que minha mãe, que também era campanhense, costumava contar a mim e meus irmãos. Inclusive a professora Elvira a quem ela se refere em seu conto era uma parenta de minha mãe e muito querida por todos nós. Vou transcrever aqui um de seus contos escolhido por acaso. 

A pergunta indiscreta  

Durante o tempo que estudei em Campanha, meus professores se preocupavam muito comigo em vista do acidente acontecido com minha mão direita. Edna e Olga estudavam no colégio do Sion. Maria José já havia se formado casado e lecionava no Grupo Escolar Zoroastro de Oliveira.,onde eu estudava. O corpo docente era da melhor qualidade. Dª Palmira Azevedo, Sara borges, Mª AntôniaVilhena de Morais, Emiliana Cesarino, Cândida de Araujo, Elvira Brandão de Andrade, Júlio Bueno e outros. O ensino era rigoroso e os deveres que eu levava para casa eram muitos e eu não deixava nada por fazer. A classe era mista e todos se davam muito bem, continuando a amizade fora das horas de aula. As famílias dos alunos eram conhecidas e amigas. Um garoto de nome Toninho, muito estimado por ser estudioso, quieto e obediente, era meu amigo e no recreio, como seu pai tinha uma padaria, sempre me trazia um docinho. Suas merendas nunca eram repetidas e cada qual mais gostosa e cheia de creme. Invariavelmente eu era a convidada para o lanche.

Certo dia, Toninho veio para a aula trazendo um passarinho dentro de uma gaiola, que ele dizia ter ganho no caminho para o Grupo. Dª Palmyra, a professora, muito boa,mas muito enérgica, espantou-se com aquilo e não permitira a presença do passarinho na classe. O menino implorou, no que foi atendido; colocou a gaiola sobre a sua carteira, coisa de que não abriu mão e a partir daí, todas as atenções se voltaram para a pobre ave que, encolhida, Toninho dizia estar apavorada com tanto zum-zum-zum. E nada de prestar atenção nas lições que Dª Palmyra passava na lousa; principalmente quando eu sentava ao lado dele!
Ao final das aulas, Toninho saiu em disparada com a gaiola na mão.
O pássaro já estava morto. Quem o deu, já sabia o que estava prestes a acontecer. Dia seguinte na escola, a professora perguntou sobre a avezinha. Ele tristemente respondeu que havia morrido, mas que a ninhada de oito gatinhos que acabara de nascer em sua casa, era uma belezinha! E perguntou:
"Por onde nascem os gatinhos professora?"
"Pela boca menino", respondeu a professora.
"Engraçado, os lá de casa estão nascendo diferente", eu disse à professora.
A mestra encarou-me firme, apertou os lábios, pegou a régua, bateu-a com força na mesa e gritou: Recreio.


Como vivíamos tempos ilários. Éramos felizes e não sabíamos. Se o problema das professoras, hoje, fosse este, que felicidade.


















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