quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Parabéns Nancy

Doce Presente vindo do Céu,
Mui amiga e companheira,
No jardim que Deus me deu,
Foi você a flor primeira.

Todos dizem a mãe puxou,
Pelos traços que muito herdou,
Mas benção você encontrou,
Na família que Deus te doou.

Hoje dizer-te vou: Parabéns!
Meu afeto saiba que tens.
É com festa que vamos lembrar,
Sua chegada para nos alegrar.

Sua mãe Wanda 31/08/11

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Cidades pequenas têm coisas interessantes

Cidades pequenas têm coisas muito interessantes mesmo. Fogem à compreensão de qualquer ser humano mais polido e civilizado.
Estive em uma reunião onde fiquei a observar as muitas pessoas que iam e vinham no local. Participávamos do mesmo evento. Era um alvoroço, um entra e sai, muitas rodinhas onde a conversa rolava solta. O tom da conversa estava bem acima do normal. Risadas descontraídas ouvia-se aqui e acolá.  Em uma sala ao lado, uma mesa com todo tipo de mistura, salgados, refrigerantes e café. Tudo muito normal se tivéssemos em uma reunião de escola, aniversário, comemorando conquistas, etc... O triste, que até fica cômico, é que estávamos todos reunidos para despedirmos de um amigo, em um animado velório.
A modernidade faz questão de fazer tudo parecer normal. Isto me deixa um tanto insegura, sem saber onde está a linha divisória entre o normal e o absurdo. O que me levou a indagar:
- Minha filha, você está achando normal esta movimentação toda?
- Está bem exagerada minha mãe, mas também o defunto não impõe respeito, acontece o que estamos vendo.
- Defunto tem que impor respeito? Como assim? Nunca pensei nisso! Nunca imaginei que defunto deva impor respeito. Defunto para mim é um ser inanimado que não impõe coisa alguma, muito menos respeito.
-Estou dizendo do respeito que deveria ter tido consigo mesmo durante a vida, para que fosse respeitado depois da morte. Foi a explicação de minha filha.
- Para mim eu tenho que, são as pessoas que não tem educação. Não sabem respeitar os sentimentos dos parentes. Comentou a professora Dirce.
- Eu estou sentindo que estou em uma animada festa. Comentou Carol.
- Antigamente tinha-se o maior respeito. Usava-se roupa preta. Tudo no maior silêncio. Recitavam muitas rezas. Observou Tia Filomena.
- As pessoas estão se encontrando pouco e quando se encontram vão colocar as fofocas em dia, sem pensar onde estão. Esta foi a filosofia barata do professor Pacheco.
Lúcia sai, sorrateiramente, procurando outra rodinha onde as fofocas estejam rolando com mais liberdade, sem as vãs filosofias.
As horas iam passando e a movimentação estava cada vez mais exacerbada.
Uma amiga aproxima-se e comenta:
- Ouvi dizer, não provo nada, mas estão dizendo, que foi vontade do defunto que se servisse bebida durante o velório. E ela está rolando aí pra quem quiser.
- Acho então que está explicada esta animação exagerada, que está nos assustando. Comentei.
Trocam-se receitas de culinária, de remédio, até de bem viver, com a maior liberdade. Comenta-se sobre o concurso de Miss Brasil realizado no país, este ano, a luta de UFC que foi um sucesso, as olimpíadas que estão para vir, copa que vai acontecer em breve, assaltos a caixas eletrônicos, a epidemia das drogas rolando solto... Por aí vai desfilando um rosário de acontecimentos mundanos, que ocuparam os noticiários estes dias. Agora estão ocupando o lugar do rosário recitado pelos devotos da Mãe de Jesus, que há bem pouco tempo era bem lembrado nos velórios.  Mas também o defunto não impõe respeito!
O que chamou a atenção ao meu lado foi a aproximação de uma solteirona, onde estavam assentados, dois solteirões. A conversa animou-se rapidamente, porém em tom moderado, como se quisesse respeitar o momento. Disfarçadamente, mas com muita liberdade, a solteirona aproxima-se bem de seus ouvintes passando a esfregar-lhes os joelhos, num ato libidinoso. Era um momento de deliberada sexualidade aflorada. Era o que estava faltando naquele cenário, no mínimo curioso, onde o defunto não impõe respeito... O ato de atrevimento parece ter agradado os “moços” ao lado, que ficam a olhar, com olhares cobiçosos, quando a “moça” sai toda provocante, caminhando consciente do sentimento despertado em seus amigos ouvintes.
Do outro lado, mais à frente, formou-se uma roda de descasadas. Com o olhar decepcionado, ora olham para as interlocutoras, ora para o defunto ali exposto. Tratava de esperança de novos amores para alguma delas. Agora é tudo uma decepção.
Aliás, não fosse o falatório, o grande número de descasadas e os celulares que tocavam de um canto a outro, eu jurava que tínhamos voltado no tempo 20,30,40 anos atrás. Este sentimento aflorou-me quando passei a perceber as vestimentas e os penteados que as “moças” usavam. Formou-se um verdadeiro museu ambulante aquele desfile ultrapassado de coroas. Mas também o defunto não impõe respeito.
Mais uma rodinha e alguém lembra o que anima toda roda:
- Dentro em pouco teremos eleições municipais, vocês estão se lembrando disso?
-Quem pode esquecer, com tamanha movimentação de políticos, no local?
- Estão sensibilizamos, com a perda de um eleitor?
- Talvez, mas principalmente desejam conquistar os familiares neste momento de dor.
- É mais uma maneira de poder permanecer nos cargos que ocupam. É o grande desejo de servir a população.
- Eh tá cargo cobiçado. Nunca vi tanta gente se dispor a servir a população, como hoje em dia.
- E este prefeito que insiste em ficar de olho fechado?
- Não é preciso impor respeito?
- Quem o defunto?
- Não o prefeito.
- Os amigos mais chegados do moribundo vão aparecendo. Gente muito esquisita, muito estropiada, efeito de muito álcool. Esses fantoches ambulantes aos poucos vão se reunindo em torno do féretro, assustados e sensibilizados com a perda do companheiro. É o resultado da falta de respeito que não têm consigo mesmo. Um deles mais exaltado, mal pode equilibrar-se, adentra marcando uma horizontal cheia de curvas e dirige-se ao amigo ali exposto. Aproxima-se abrutada mente do caixão, que em um ato tão rápido escorrega dos descansos e sem que ninguém                                             possa socorrer, vai ao chão. Que desastre desagradável! O silêncio tão desejado se instala agora. Até o corpo já inerte e meio petrificado, escorrega e sai de seu leito, como se aquele lugar não estivesse confortável para ele. Há uma correria geral. Todos querem colaborar para que a situação volte rapidamente ao normal. É o efeito da falta de respeito que o defunto não inspira.
Dentro em pouco sai o cortejo. Deverá ir à igreja para recomendar o defunto. Este deve ir bem contrariado, pois passou a vida toda fugindo daquele lugar. Ali achava que Deus estaria sempre com o dedo apontado para ele. Efeito da vida desregrada que levava. Agora ele não tem querer. Vai sim passar na igreja. As pessoas acham que este ato apaga todos os afastamentos que tivera e o aproxima de Deus. 
Mas agora?
                                          Wanda.30/08/11  

  

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Os dois lados da moeda



Vemos aqui dois pavilhões do Caique, mas não são os únicos. 

Em tudo na vida existe “os dois lados da moeda”. São os famosos antônimos. Convivemos com o muito e o pouco, com o grande e o pequeno, com o bem e o mal... Poderia enumerar páginas de palavras antônimas. Vou deter-me, porém, no bem e no mal. O mal é sempre de grande repercussão, muito alarmante e inquietante. Ao contrário, o bem é silencioso, de pequena divulgação e interesse contudo é tranqüilizante, promove a paz e traz esperança. Estou dizendo isto para justificar os dois momentos que vivem a nossa sociedade. Vou primeiramente dar espaço para o bem.
Caique é uma das boas escolas do município. Está situada em um bairro de extrema dificuldade. Há bem pouco tempo oferecia poucas oportunidades de integração social à seus moradores. Para quem viu uma escola com classe funcionando dentro da igreja e um puxado no fundo, este Caique é mesmo um educandário no verdadeiro sentido da palavra. Voltei de uma entrevista, que fui convidada a dar nesta escola, com esperança de um novo tempo para todos. Tempo de ascensão para uma sociedade que, dês da época da fundação de nossa cidade, dos tempos da mineração (e isto quer dizer 250 anos), têm uma exclusão social que nos envergonha. 
Por já ter trabalhado na área de assistência social, há algum tempo,  pude estabelecer a diferença entre o trabalho voluntário que fazíamos e o trabalho realizado, hoje, especialmente por este estabelecimento de ensino. A constatação não é só pelo que vi no momento, mas pelo que venho observando há algum tempo, na conversa com pessoas do bairro, na movimentação dos jovens, na aparência das moradias e do próprio bairro de um modo geral.
O Bairro Nossa Senhora Aparecida era onde realizávamos um trabalho de assistência social intenso. O S.O.S. a entidade a que pertencíamos, naquele momento, fazia um movimento de muita relevância. Hoje já não seria tanto. Tudo era feito com muita dificuldade e limitação, por se tratar de trabalho voluntário. Ressalto, porém, a disponibilidade e dedicação das pessoas que juntas fizemos o S.O.S. acontecer. O tipo de trabalho hoje é outro. Tanto é que a entidade cessou suas atividades no município. Cessou suas atividades, mas precisa ficar registrada na história.
O modelo atual envolve as diversas áreas do governo que, menos do que devia, mais do que na época de nossa atuação, da uma contribuição marcante. Com isso a escola tem uma inserção muito mais abrangente e eficaz. Mais do que levar educação, levam atendimento médico, dentário, alimentar e uma integração entre pais e escola. Na convivência com pessoas do bairro especialmente os jovens podemos perceber a vontade de buscar uma formação profissional, vontade de ser alguém na vida. Estão descortinando um futuro que há bem pouco tempo lhes era negado. Percebe-se: o despertar do interesse pela leitura, o entrosamento entre família e escola, a ausência da vergonhosa fome, que muitos passaram, o acesso a muitos meios de comunicação, inclusive a internet o que é de relevada importância.
Sinto que um novo tempo está nascendo para o nosso povo e, quem dera, para todos os brasileirinhos e brasileirinhas, que estão despontando em nosso país. Que um novo país possa surgir com melhores oportunidades e muitas chances, para todas as pessoas de boa vontade.
Este é um dos lados da moeda. Amanhã posto o outro.                
Wanda. 24/08/11

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sacudiram meu chip!!!

Toda floresta vivia em uma intensa movimentação, ano após ano, século após século, milênio após milênio Os mais variados tipos de vegetação se intercalam em um exuberante labirinto verde. Um rico conjunto de animais forma um dos maiores ecossistemas do planeta. Tudo seguindo exatamente uma ordem, pré-estabelecida, colocada em seus chips interiores. Aparentemente toda floresta parece dormir. Em seu interior, porém, tudo era movimentação agitada e frenética a favor e em defesa da vida.
    Certo dia...
Naquela noite escura, sem a luz dos vaga-lumes, ou da lua, ou até mesmo das estrelas, uma das abelhas da colméia resolveu revolucionar o sistema. Ela justamente ela, um dos menores “chip ambulante” da majestosa mata é iluminada para mudanças. Colocada em um esguio pinheiro, sua colméia se vê constantemente atacada por predadores. Naquele dia, ou melhor, naquela noite, num chacoalhar de antenas, seu chip, sempre tão recheado de sábias e precisas informações, se altera momentaneamente e se vê iluminado como nunca!
         A sábia e precisa movimentação da colméia era o orgulho de todas as suas moradoras. Nunca se havia pensado, ou mesmo desejado, mudanças naquilo que julgavam ser a perfeição das perfeições. Mas, naquele balançar de antenas, naquele deslocar do chip... Uma luz se acende e aquela serviçal abelhinha começou a ter idéias luminosas.
         Ao amanhecer, Zunzum como era chamada, pede licença à sua comandante.Avisa que não vai trabalhar, naquela manhã, em seu batalhão. Precisava urgentemente de uma audiência com a Abelha Rainha. Logo de início duas modificações extremamente ousadas, nunca vistas antes na colméia: uma serviçal não ir ao trabalho e solicitar audiência com a Rainha.
Era o início de inúmeras outras que se seguiriam. Deveria apresentar a sua superiora suas idéias. Discutiriam as possibilidades de profundas e corajosas ações no sentido de modernizar a colméia. Seriam viáveis de realização suas idéias noturnas tão brilhantes? Haveria aceitação por parte da Soberana? Haveria concordância, para por em prática as novidades que surgiram naquele momento que seu chip foi eletrizado? 
         A Soberana Rainha, que não sofreu o tal chacoalhar de chip e antenas, talvez não a compreenda. Isso lhe gerava certa inquietação. Zunzum deveria se acalmar e demonstrar confiança. O projeto precisava ser apresentado com clareza, só assim teria chance de adesões. Para não haver incompreensão tudo deveria ser exposto com simplicidade e humildade, pois afinal a luz era de Zunzum e não de sua Soberana Rainha.
    Foi assim que Zunzum respirou fundo, repassou todo seu projeto passo a passo, e batendo as asas com agilidade, adentrou ao salão real. O trono estava vazio! Depois de uma longa espera surge altaneira em seu voar ágil Sua Majestade a Rainha. Estava a colocar seus ovos matinais. Houve um reverencial cumprimento, com rápidas justificativas de sua presença ali. É solicitada, ainda com reverência, a atenção de sua alteza. Como a soberana era dotada de especial generosidade e compreensão o tempo lhe foi concedido.
Zunzum começa a explanar sua idéia e o audacioso plano que surgiu após a movimentação de suas antenas e o deslocar de seu chip interior:    
“-Prezada majestade, com imensa gratidão, reconheço sua generosidade e confiança, em mim depositada. Venho solicitar seu precioso tempo, para que possamos refletir juntas a possibilidade de se executar ou não, uma idéia que hoje à noite me sobreveio: “Ao levar um susto, minhas antenas se chocaram, meu chip deslocou e ocorreu-me a seguinte idéia: Somos constantemente atacadas por esse “fumasse intoxicante” que nos faz desnorteadas. Pelas mãos vigorosas dos insensíveis humanos. Tudo fica destruído e desorganizado em nossas colméias. Neste processo matam muitas de nossas trabalhadoras, com o objetivo de levar nosso mel. Ocorreu-me que, como nosso trabalho é produtivo, e na verdade o mel que produzimos é de real valia para a saúde dos humanos, poderíamos planejar um modo de canalizar o mel excedente em ampolas do mesmo formato dos favos: sextavadas, recobertas com uma cera um pouco mais resistente a protegê-las. Formaríamos como cachos, a exemplo das bananas, das uvas ou das lechias. Seriam fixados nos troncos das árvores. Dessa forma evitaríamos esses impiedosos ataques a que somos submetidos. Não ficaríamos expostos a crueldade que nos sobrevém. A produção seria maior com a contribuição das abelhas que não seriam mortas. Dessa forma forneceríamos aos humanos aquilo que eles desejam de um modo mais prático, para que seja recolhido. Eles ao invés de nos destruir passariam a ser nossos protetores.
     A Soberana Rainha ouviu tudo com muita atenção e pensou: “-Nunca houve na história da existência de nossa espécie tal incisão.’’ Compreensiva e ponderada, reflete sobre tudo que lhe foi exposto por Zunzum. Ao mesmo tempo, aconselha-se com suas servidoras mais próximas. Discute-se, viabiliza-se e chega-se à conclusão: “-Vamos confiar nesta iluminada abelhinha? Afinal de contas nunca fomos abordadas dessa maneira.
Exclama sua majestade em alta voz: “- Zunzum, eu e minhas servidoras mais próximas nos deparamos hoje, com uma situação inédita, da qual não há registro em nossa história. Sabemos que por mais que se pareça justa, vital e viável, constitui-se para nós, essa sua idéia, um grande desafio. È compreensível certa insegurança. Desejamos, porém confiar em você, em seu projeto. Acreditamos que você realmente foi alcançada por uma luz especial. Temos um nome a zelar. Somos as mais sábias e precisas trabalhadoras desta enorme floresta. Temos ainda o importante papel de fecundar as flores. Se falharmos as florestas poderão aos poucos morrer. Atuamos com papel decisivo no equilíbrio das espécies animais e vegetais. Vamos colocar nossos melhores especialistas, para viabilizar o projeto que nos foi proposto. Existem inúmeros fatores porque ele deverá ter sucesso.”
          Foi neste momento que o senhor Zangão entrou em ação, tendo sido convocado para coordenar todos os trabalhos, como engenheiro chefe.
         Foram acionados especialistas da melhor categoria como: engenheiros, físicos, químicos, nutricionistas, etc.
         Com o labor e seriedade que lhes é peculiar, em um breve espaço de tempo, tudo foi executado com muita perfeição. Nada poderia ser feito que desmerecesse a fama da complexa sabedoria que rege a “comunidade apidae”.
         Um balançar de antenas, um deslocar de chip, uma iluminada idéia numa noite escura; uma rainha accessível, operárias especializadas, muito labor e seriedade foram assim que começaram a surgir nos troncos das árvores “cachos de mel” e em um breve espaço de tempo toda a densa floresta estava repleta desses saborosos cachos que chamavam a atenção de todos pela beleza com que se apresentavam, e pela preciosidade que guardavam.
     A produção aumentou, os enxames revigoraram, as colméias foram protegidas e as abelhas viveram felizes para sempre! ! !
                           Wanda. 27/08/07  Revisto em 23/08/11





                                                       



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

DE BONS OLHOS A VEJO

      Aquela estação de trens de ferro, era a porta aberta, de nossa cidade, para o mundo. Nas trilhas daqueles trens, podia-se sonhar com o mundo lá fora. Os trens de ferro, aquele tão moderno meio de comunicação, eram também transportadores de sonhos e casos os mais interessantes.
Em seus vagões levavam e traziam mercadorias vindas de toda  parte, Eram vendedores ambulantes, trazendo em suas malas, novidades nunca vistas antes. Estrangeiros, pessoas as mais diversas, vinham tentar a vida neste lugar. Foi uma época em que estrangeiros, inclusive “patrícios” que chamávamos de turcos, mas na verdade eram sírios, usaram desse meio de comunicação e chegaram até nossas cidades, para tentar nova vida. Trouxeram com eles grande desenvolvimento, para a vida da região.  
     Estávamos localizados no final da ferrovia. Éramos a cidade fim de linha. Assistíamos chegar por aqui muita coisa curiosa. Pessoas que, sem ter rumo previsto, ou até pelo desejo de se esconder, muitos loucos, desciam no final da linha e ficavam perambulando pelas ruas. Eram pessoas extranhas, perturbadas, diferentes... Era só vermos alguém com esta aparência que exclamávamos: - “Eh... fim de linha!”
    Nessa época foi que apareceu por nossas bandas Dr. Marcos. Um senhor que chamávamos de doutor, mas não sabíamos na verdade se tinha este título. O que se dizia é que ele era um alemão, fugitivo de guerra. No desejo de se esconder, veio até o fim da linha da estrada de ferro.  Passou a residir na cidade, muito reservadamente, em um quarto alugado na periferia.
  Por ser muito reservado trabalhava com o imaginário das pessoas. Todos tinham uma opinião à respeito desta vida misteriosa que levava.
Assim diziam: - Ele é um homem que oculta uma grande fortuna, em uma mala escondida em seu quarto.
Outros diziam: - Ele é um fugitivo de guerra que oculta armas, trazidas da Alemanha, terminada a segunda guerra mundial.
Ou ainda: - Ele é um alemão nazista, matador de judeus, que se constitui um perigo para todos nós.
    Durante muito tempo todas essas interrogações aguçaram nossa curiosidade. Uma curiosidade que nunca foi totalmente satisfeita. Depois de sua morte, quando autoridades da cidade revistaram seus pertences, constataram que era descendente de família nobre alemã. Hoje temos no cemitério local, um túmulo em forma de pirâmide, conforme ele mesmo projetou. Ali estão enterrados seus restos mortais e também seus mistérios.
         O que tenho de lembrança desse senhor, que nós chamávamos de doutor, é que era um homem muito fino, sem muita altura, um ar um tanto severo, sem muitos sorrisos, de olhos azuis muito penetrantes, com uma fineza, que lhe era peculiar. Era uma figura singular! Tinha ele o costume de andar pelas fazendas do município e fazer amizade com os fazendeiros. Era sempre muito bem recebido por onde passava.
Na chácara em que morávamos, era dia de festa a visita de doutor Marcos. De longe avistávamos seu caminhar, na estrada que dava acesso à chácara. Formava-se um reboliço a espera da novidade.  Possuía uma aparência inconfundível, pelo seu modo de vestir. Usava chapéus, sobretudo e polainas, bem diferente de nossos costumes. Seu caminhar era batido, compassado e imponente como de um soldado. Meus avós, meus primos, que eram muitos e eu, rodeávamos o visitante. Muito cerimoniosamente  ele cumprimentava meu avô, se inclinava para cumprimentar minha avó e beijar-lhe a mão. Este ato era acompanhado da exclamação: “-De bons olhos a vejo!” Minha avó, descendente de portugueses, de fina educação, sabia perfeitamente a resposta a dar, mas simplesmente dizia: “- Obrigado.” Saia de perto e resmungava: “- Eu bem sei como responder. O certo seria dizer: De coração lhe desejo! Mas isso eu não digo”. Nunca fiquei sabendo se era por vergonha, ou talvez, para não despertar ciúmes em meu avô. Mas era um bom motivo, para despertar risadas em todos nós aquele cumprimento tão esquisito.
Aquele dia era dia de festa com a novidade da visita. Meu avô passaria o dia por conta de fazer sala ao amigo misterioso em “longos colóquios.” E minha avó capricharia na culinária, porque tínhamos visita. Tudo com muita simplicidade, colhido em sua horta.
           Depois de caminhar pelos arredores da chácara, na enorme horta, no belo pomar e pelo curral onde estava o gado, já entardecia, era hora das despedidas.
           Lá se foi mais um dia de novidades, na deliciosa chácara de meus avós, como muitos outros que viriam a suceder.
            Eram situações inocentes que faziam a também simples e inocente alegria de todos nós.

                                                           Wanda. 10/6/05, reescrito em 22/08/11  
   Conto de meu livro "Casos e causos do Casarão".
                                                           

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Escrevendo a história

Fico satisfeita de saber que algumas pessoas começam a se interessar pela história da cidade. Já fomos, de muitas maneiras, prejudicados pelo desinteresse que tivemos do nosso passado. Poucas cidades em nosso estado, ou poderia dizer em nosso país, tiveram uma história tão rica e movimentada como foi a nossa. Quase tudo foi jogado ao léu, como se passado não tivéssemos. O resultado acabou sendo: ficarmos na obscuridade, não pertencer tão ricamente à relação das históricas cidades de Minas. Isso pela:
·        Destruição de nossos antigos casarões, que foram aqui construídos na época da intensa atividade aurífera.
·        A falta de museus que abrigassem as relíquias dessa história é outro ponto crucial.
·       A história contada e escrita poderia ser muito mais rica se tivéssemos tido a curiosidade de buscar e registrar esta história.  
São estes pontos fundamentais para trazer á memória o passado e não deixá-lo em branco, como se não tivesse existido. Casarões, construções ricas em detalhes contam a história, museus nos arremetem ao passado imaginando como tudo aconteceu antes de existirmos... a curiosidade e o registro escrito, confirmam o que nossa vista registrou ao visitarmos e vermos construções e museus.
Não podemos, porém ficar “chorando o leite derramado”. O tempo passou. Devemos nos conscientizar que as coisas não aconteceram como deveriam, mas que sempre há um recomeço. Daqui para frente poderemos fazer as coisas acontecerem.
Fui convidada a participar de uma homenagem que os moradores do bairro do Rosário fizeram às pessoas que, durante os 203 anos de existência da Igreja do Rosário, foram colaboradoras e mantenedoras desta história. Surpreendeu-me a igreja cheia e as pessoas interessadas nos relatos históricos, ali expostos.
As pessoas ali lembradas e homenageadas foram entre antepassados e atuais: 
·        Américo Bueno da Costa
·        Senador Manoel Alves de Lemos
·        Capitão de mar e guerra Carlos Alberto da Rocha
·        Sr João Flora
·        Alfredinho
·        Fernando Avelino
·        Sr. João Rodrigues (João Flora filho)
·        Manoel Gregório de Oliveira
·        Sr. Rui Feital de Lemos
·        Prof. Elza Rodrigues
·        Francisco Rufino
·        José Benedito de Paiva
·        Mundico
·        Arnaldo Rufino
·        Prof. Mª Teresa L. Dias de Sousa
·        Lourival Presses
·        Francisco Ribeiro Pereira
·        Prof. Kelle Cristiane Balestra
·        Dr. Renilda Ferreira dos Santos
·        Dr. Osvaldo Henrique Vilela Santos
·        Prof. Mª Aparecida Rodrigues
·        Dimas Belarmino
Outros colaboradores atuais formam uma respeitável diretoria, além de colaboradores anônimos.
É com a formação de núcleos assim, em diversos bairros da cidade, que poderemos resgatar a história. Não só isso, mas também escrever nossa história atual. Escrever uma história dando dignidade ao ser humano. Ressalto nossas inúmeras necessidades como ser humano vivenciadas hoje:
Ø Formação núcleos que trabalhem para proteger e formar nossos jovens, que hoje estão expostos às inúmeras opções desastrosas que o mundo oferece.  Complementando o que as escolas já fazem.
Ø Criação opções de trabalho digno, nos diversos cantos da cidade. Trabalho que exige criatividade e dedicação, mas funciona.
Ø Criação de oportunidades de realização e satisfação no lugar onde vivem, não só no trabalho, mas no esporte, no lazer e na cultura o que nos faz criar raízes.
Ø Promoção da melhor aparência dos bairros com mutirões de limpeza e criando espaços agradáveis de convivência. Trazendo orgulho para seus moradores.
Tudo começa com o primeiro passo. É só ver alguém dando um passo que minha veia idealista e sonhadora se enche de esperança. É assim que acontecemos hoje. É assim que fazemos história. Para termos nosso nome escrito no livro dos que passaram servindo a comunidade vai precisar de um pouco de dedicação desinteressada de nossa parte. É trabalhoso? É!!! Principalmente quando se tem uma atuação tão fraca da comunidade, como nos dias de hoje. O começo de todas as coisas é sempre mais difícil. Se não quisermos ver a violência dos grandes centros invadindo ainda mais nossos espaços, levando nossos jovens, urge que comecemos a trabalhar neste sentido.
Participar ou não da história, ambos tem seu preço. O preço de não participar, não fazer hitória, estamos colhendo hoje. e sabemos que é frustrante. O preço de fazer história, com suas exigências, sempre será compensador. 
Gostaria de registrar aqui além dos nomes citados, a atuação quase que isolada, de nossa querida conterrânea “Vanuza Eugênio” que contribuiu para a criação da biblioteca do Novo Horizonte. A comunidade pode se orgulhar do espaço que serve de crescimento da cultura, não só para seu bairro, mas para toda a cidade. Seu dinamismo precisa contagiar algumas pessoas e assim a história da cidade se escreverá de outra forma. Vale a pena não passar em branco, como se não tivéssemos existido.
“Aconteça hoje para que tenhamos história amanhã.”
                                                  Wanda. Agosto de 2011.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Olhos e mãos de Pai

Pai, olho tuas mãos,
Elas são importantes na construção de teus filhos;
Que elas saibam ser firmes no orientar,
Serenas no amparar;
Que elas não fujam ao dever de punir,
E não se aviltem por agredir...
Tuas mãos, pai,
Devem ser o exemplo do teu trabalho
E que não se abram apenas materialmente,
Que isso é um modo de fechar a consciência,
Mas que, ao abri-las estejas abrindo muito mais
O teu coração e a tua compreensão...
Teus olhos, pai, que responsabilidade eles têm,
Que eles vejam as qualidades de teus filhos,
Por pequenas que sejam, para que as faças crescer,
Mas que não deixem de ver os defeitos e as falhas,
Porque pode ser teu o dever de corrigi-las...
Não te consideres, pai, sem defeitos,
Mas que isso não te desobrigues
Da perfeição de ensinares o que sabes certo,
Ainda que tu mesmo tenha dificuldade em segui-lo,
Mais importante do que conseguí-lo,
Sem dúvida será lutar por ele.
Pai, o que se quer de ti,
É que pai sejas,
No conceber por amor,
No receber por amor,
No renunciar por amor,
No amor total dos filhos que,
sem teu amor,
perderão o significado da própria vida.
Pai, estás presente no sangue,
Na herança biológica,
Na cor, no nome, na língua,
Tudo isso, porém, desaparecerá
Senão te fizeres presente no coração.
(Autor desconhecido)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Espírito nos traz vida

Vamos mais uma vez nos comunicar no Espírito do Senhor através de sua palavra. Isto quer dizer que não estamos falando de denominações, de ritos ou de tradições. Estamos refletindo sobre um Deus que é superior e maior que tudo isto.
Todos nós concordamos que Deus é o autor da vida. Sendo ele o autor da vida sua preocupação constante e maior é a de conservar a vida em todas as suas formas, especialmente a do ser humano. O sangue é para a vida humana assim como o Espírito é para a Vida espiritual. O Espírito traz a seiva que circula em nós confirmando nossa vida em Deus, este é o alimento para nossa Vida nos céus. Deus olha e conserva esta Vida que existe em nós.
É  interessante lembrarmo-nos da parábola da videira (Jo15, 1-7). Existe todo um processo para que a videira cumpra o seu propósito: dar frutos. Há de se defender dos ataques de insetos indesejados, Há de estar em um terreno fértil. Há de receber luz e calor conforme a necessidade. Raiz, caule e folhas deverão estar devidamente interligados, permitindo que a seiva percorra toda a planta. Os galos que não se encontrarem cravados ao tronco naturalmente irão secar e serão queimados.
O homem, como ser humano criado por Deus, cumpre seu propósito buscando a volta para este Deus que o criou. Para que possamos cumprir o propósito a que fomos criados deveremos estar interligados ao nosso Deus. Isto se dá quando estamos em unidade com seu Espírito de Vida. Aí encontraremos luz, calor, proteção contra os ataques do inimigo de Deus, e a garantia de estarmos gerando e mantendo a Vida de Deus em nós.
Por mais que eu deseje ser bom, por mais que eu deseje doar meus bens, por mais que eu me esforce com minhas forças, para ser um ser espiritual, não serei. É o Espírito de Deus que nos torna seres Espirituais. Na parábola da videira nós somos os ramos Jesus é o tronco e as raízes estão cravadas nos céus. De lá, somente de lá, deverá vir a seiva que nos manterá vivos para Deus, amalgamados a toda planta e inseridos no reino dos céus. Reconhecemos que de fato temos a seiva da vida quando o Espírito nos instiga a orarmos. É o Espírito que está a todo o momento nos conduzindo aos caminhos de Deus. As orações no Espírito saem da sinceridade de nosso coração, são cheias de vitalidade e ao terminarmos seremos uma criatura mais parecida com o Criador e apropriada para ocupar nosso espaço nos céus.
Não poderei falar de Vida de Deus sem falar do Espírito Santo e sem falar em santidade, não posso falar em Amazônia sem falar em matas, não posso falar em frutas sem falar em vitaminas, não posso falar em neve sem falar em frio. O alimento para nosso espírito, que tanto precisamos para nos santificar e manter vivos nos céu, corre nas veias do evangelho. Não se pode separar uma coisa de outra.
Se tivéssemos no mundo pais ou pessoas tão perfeitas das quais pudéssemos pautar nossas vidas, ainda assim, o seu falar seria tão somente para o nosso viver terreno. Contrário a este raciocínio a palavra de Deus que tem poder de nos transformar à imagem de Deus, nos impulsiona para a vida ressuscitada e eterna nos céus. Sem o ser humano que se deixa transformar para a santificação e sem o Espírito da Vida que nos santifica, os céus jamais seriam povoados.
Presumo que, muitas pessoas que se julgam boas por si mesmas, recitam orações frias que não querem dizer nada e freqüentam tudo na igreja a que pertencem, jamais nasceram de novo,  do Espírito, jamais foram alimentadas pelo Espírito de Deus e poderão se surpreender ao constatar que não passam de um galho seco.
Wanda Agosto 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Coisa (É muita criatividade)

Não sei quem é o autor dessa coisa, mas sei que essa coisa é uma coisa boa de ler...
     
         A palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma idéia. Coisas do português.
      A natureza das coisas: gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há "coisar": "Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?".
      Coisar, em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as "coisas" nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. "E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha.
       Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já." E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao de gente grande, há também o Segura a Coisinha.
       Na literatura, a "coisa" é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica O Coisa em 1943. A Coisa é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu A Força das Coisas, e Michel Foucault, As Palavras e as Coisas.
       Em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".
        Devido lugar: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)". A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro. "Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.
        Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).
        Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!
        Coisa de cinema! A Coisa virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem "Coisinha de Jesus".
         Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima". Mas a "coisa" tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré ("Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar"), e A Banda, de Chico Buarque ("Pra  ver a banda passar / Cantando coisas de amor"), que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre remasterizou.         Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: "Coisa linda / Coisa que eu adoro".
        Cheio das coisas. As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração. Todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o "rei" das coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas.
        Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade (afinal, "são tantas coisinhas miúdas"). Já para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade ("ô coisinha tão bonitinha do pai"). Todas as Coisas e Eu é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa...Já qualquer  coisa doida dentro mexe." Essa coisa doida é uma citação da música Qualquer Coisa, de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da ordem."
         Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal. O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.
        A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: "Agora a coisa vai." Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!
         Coisa à  toa. Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente." E, no verso do poeta, "coisa" vira "cousa".
         Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para ser usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas más.
        Mas, "deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida", cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda. Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: "amarás a Deus sobre todas as coisas". 
       ENTENDEU O ESPÍRITO DA COISA?

QUE COISA, HEIN?!

Um dia revela a outro dia sua mensagem”

“Um dia revela a outro dia sua mensagem”,
 Tão igual e ao mesmo tempo tão diferente ! 
O sol reina soberano no espaço,
Enviando a terra suas últimas pinceladas,
Ao se ocultar no horizonte tudo é majestade.
O ar impregna-se de púrpura dourada,
Ao final da tarde  tudo respira realeza.
São os últimos acordes, de uma passagem  gloriosa.
É a mãe natureza manifestando seu último falar.
Do nascer ao por do sol a confirmação
Da simplicidade e da complexidade
Na proporção equilibrada da sabedoria.
A mesma trajetória, o mesmo falar eloquente,
Para todas as raças em todas as línguas,
Fala aos sábios e ignorantes, aos ricos e aos pobres,
Em silêncio, sem alarido, alcançando a todos.
 Inspirando ao  músico  sua composição maior,
o pintor  sua tela premiada,
Ao poeta  seus versos  inebriantes,
Durante  milênios, sem saber racionalizar o tempo
 E a hora mágica do encanto e do enlevo.
A cortina se fecha silenciosa
Cumprindo assim uma missão sublime.
Sua trajetória é  marcada invariavelmente
Pelo orvalho que escorre ao primeiro raio de sol,
Pelos momentos que derretem como orvalho,
Sem nunca voltar atrás.
Pelo frio da madrugada que se vai,
Para haver o aconchego do calor do dia.
Pela luz que dissipa as trevas
Fazendo brotar a vida.
Está cravado o relógio da existência
Falando ao mundo do passar do tempo,
Constatando a  preciosidade  da vida,
Do quão passageiras são a alegria e a tristeza,
A vida enfim.
Sinalizando para uma passagem que se aproxima,
Sem que possamos nos opor a ela.
Do eterno que virá com ou sem o nosso consentimento.
Da glória e do poder que revestem  as obras da natureza.
Do nascer ao por do sol descortinam-se
A realeza, a fidelidade, a grandiosidade de um Deus
Bem presente,  muito próximo de sua criação !
"Um dia revela a outro dia sua mensagem”,  (ref. Sl 19)
Tão igual e ao mesmo tempo tão diferente!  
                                 
Quadro- pintura à óleo em tela – capa do livro de minha autoria: “Que vida é essa”
Poesia inspirada no Salmo 19 e na capa do livro “Que vida é essa”.                                                        
Participação no concurso “Talentos da Maturidade” 2006 do Banco Real                                               Wanda Teresa Lemos Paiva