sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A Indústria do avesso


A indústria do avesso

Hoje reli o artigo que escrevi há tempos, com o título “A indústria do avesso”. Referia-me ao carnaval. É fácil constatar que, de lá para cá, a indústria do avesso proliferou com imensa força, criou cara nova, tomou rumos tão diferentes. A indústria passou a ocupar todo ano. Isso significa que o dia a dia está às avessas? Posso estar sendo radical e incomodar, mas diria que sim.
Tudo está tão ao contrário do que já esteve a começar pelo tempo. Quando cantávamos: “mas que caloooor ooor”, realmente estávamos vivendo uma época de intenso calor. “Momo reinava” sob um sol ardente. Onde foi parar o calor do alto verão? Ao som de “Chegou a turma do funil...” “O abre alas que quero passar”as famílias divertiam, formando enormes blocos, onde dançavam avós pais e netos, ao aroma agradável do lança perfume; só para refrescar e perfumar. Era interessante e até engraçado, em épocas carnavalescas, nos deparar com blocos de homens vestidos de mulheres, sob o embalo de “Olha a cabeleira do Zezé, Maria sapatão, A mulata é a tal, O teu cabelo não nega mulata” e pasmem, nem se cogitava do tal preconceito. Algumas pessoas se excediam no álcool ao som de “Você pensa que cachaça é água?” Passando as comemorações tudo voltava ao seu normal, por um longo ano. Pierrô chorava pelo amor de Colombina que se foi com Arlequim, ao espalhar de confetes e serpentinas Aurora ouvia o clamor de seu amado: ”Se você fosse sincera ôôô Aurora”... raramente o sangue era derramado.  Os escândalos ficavam por conta de Chiquita bacana, que se vestia com uma casca de uma banana nanica e Maria Escandalosa que a ninguém dava prosa. Esta era a mulher fruta da época. Eram momentos de descontração e alegria. Cantavam-se pequenas brincadeiras “as avessas” que com o passar do tempo foram criando vulto.
Hoje, durante todo ano, a sexualidade invertida corporificou e requer espaço, muito espaço, além das leis que dizem que, tudo constitui preconceito. Observo que o consumo do álcool cresceu, não só em épocas carnavalescas, mas durante todo ano e se possível todos os dias. Hoje, pais e mães se embriagam e é normal. As drogas, essas, alucinam não só mais os jovens. Quem não consome esta droga de droga, sofre atingido pelo medo, pela insegurança Este estado de alucinação, transgride as leis da vida, gerando inimizades, roubos, estupros, pedofilia, assassinatos e mortes.Considero ainda que é um tempo de extrema vaidade, de culto ao corpo, que se apossa de todos, homens e mulheres. 
Com a indústria do avesso em alta, com a inversão dos valores em franca atividade, com os limites todos extrapolados, estamos vivendo a violência das violências, a transgressão das transgressões. Toda a sociedade é atingida por este despropósito. A vida torna-se banal, sem razão, sem sentido, quando invertemos seus valores. A humanidade não ficará impune, ao viver às avessas.
Poderíamos dizer que Deus se esqueceu dos que estão mergulhados no contrário, não fosse o que acontece em muitos lugares, nesta época. São os encontros espirituais, com diversos nomes, nas diversas denominações de igrejas, onde famílias inteiras buscam reabastecer e dar sentido à vida. Aí se trabalha a razão de ser da existência, pratica-se o viver com sentido e sabedoria.
Por já ter freqüentado inúmeros encontros espirituais, nesta época, diria que ali declaramos: não a embriagues do corpo, sim a embriagues do espírito, não à insatisfação da carne, mas a profunda paz do espírito, não ao sexo desenfreado e desatinado, mas sim ao sexo no amor verdadeiro conforme a criação de Deus, não à violência, sim ao respeito ao próximo, à união e ao amor, não ao endeusamento do corpo, mas o corpo para conter Deus.
É mesmo um momento às avessas esse momento de entrega as satisfações da carne, (este é o significado da palavra carnaval). É mesmo um momento às avessas esse momento de Deus com seu povo. É uma mesma moeda com duas faces.
                                           

                                              Wanda. Fevereiro 2013