sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Preparando nossas crianças

Esta semana deparei-me com um livro que minha neta, de cinco anos, trouxe da escola para ser visto em casa. É bem interessante oferecer livros para as crianças “lerem”, durante uma semana, e na semana seguinte devolver. É ai que vai se estabelecer o tão útil hábito de leitura.
   O livro que estou me referindo, porém, assustou-me. O título era: Dodó. Uma verdadeira apologia a bunda.   Não é engano meu, não é brincadeira, é a verdade do que vi. Causou-me repúdio, sabe aquele olhar que faz distanciar o rosto, num misto de rigidez e susto? Isso me arremeteu o pensamento nas muitas formas de agressão, que vem sofrendo nossas crianças, nos diversos ângulos de sua formação. Se pais que cuidam devidamente de seus filhos, se professores que colaboram na formação das crianças, não sabem discernir o certo do errado, se a TV é a grande educadora das crianças no momento atual, que será de nossas crianças no futuro que as espera? Eu mesma não sei se vou ser acusada de preconceito contra a bunda. Meus valores são outros.
   A infância tem que ser rodeada de amor, do belo, do alegre, da felicidade. Esta é a infância que servirá de esteio para uma vida equilibrada e feliz que todo ser humano almeja e tem direito. A criança desde a mais tenra idade percebe em que ambiente está vivendo. Suas percepções devem levá-la a descobrir o amor em seu lar, a valorizar o belo, a acreditar que a alegria e a felicidade existem. “A infância é sagrada e deverá ser respeitada sempre.”
   É muito comum os pais se preocuparem com a saúde física de seus filhos. A saúde intelectual, em parte, porque hoje em dia, já se tem mais consciência da importância da freqüência às escolas. Porém, quanto a saúde emocional, a formação de valores éticos e morais, e da saúde espiritual, deixa-se muito a desejar. Há um grande vasio.
Baseando-me naquele livrinho de Bibi, Pergunto: quem comprou este livro, foi alguma mãe? Quem distribuiu o livro foram os professores? Se pais e professores estão de acordo, porque estaria eu indignada? Não estou crucificando este episódio do livrinho de Bibi, estou sim, a partir dele raciocinando em todo tipo de agressão infantil que nossas crianças vêm recebendo. Cenas agressivas estão, diariamente, a todo instante, na mídia, que tem um papel importante na formação de nossas crianças. Pais consentem que seus filhos vejam, até assistem com eles.
   Teremos que pagar um preço alto pelo descuido que hoje estamos tendo com nossas crianças. Passamos valores errados, praticamos a política do ter, do comprar, do tudo pode e do tudo vale, para ser feliz.
Vive-se, hoje, um individualismo exagerado. Solidariedade é atributo raro, que ao invés de nos fazer crescer como pessoas, parece nos envergonhar. É como se estivéssemos recebendo atestado de um sentimental bobo. É preciso ostentar roupas de marcas, celulares da hora, mochilas, tênis e petrechos ultramodernos, com isso, são descobertos ainda bem cedo, a ostentação, a discriminação, a vaidade exacerbada, a insatisfação gerada pela super valorização de nosso exterior, o vazio interior. A sexualidade prematura rouba-lhes o direito de serem inocentes. A agressividade em filmes, os mais inocentes, rouba-lhes o direito ao verdadeiro amor, ao belo. Este assunto é muito vasto.
   Com todo este desvirtuamento na formação de seres humanos tão indefesos, o futuro do planeta está tão ameaçado quanto a falta de preservação do meio ambiente. A falta de preservação do futuro do ser humano é pior e mais devastadora que a falta de preservação do meio ambiente. A chance de nos tornarmos indivíduos animalescos, ou piores que animais, é muito grande. Animais sabem proteger e guardar os seus.
   Vivemos em um mundo em que se falar em moral, dignidade, compaixão, está se tornando cada vez mais careta. Em compensação o nada, ou o desvirtuado, que se está substituído valores já estabelecidos, arremete os homens a um abismo... que atrai outro abismo... que atrai outro abismo...
   Nossos filhos não são propriedade nossa, são sim graça, dom, presente de Deus, para nossas vidas. A infância passa num piscar de olhos e a base, o esteio, a formação do caráter de nossas crianças, do ser humano que está sendo preparado por nós, sem que possamos segurar, em breve armará vôo. Sendo assim, nosso tempo, nosso sacrifício, nossas prioridades, tem que ser para eles, enquanto há tempo.
   Ainda há esperança, para um mundo melhor, valorizando o que realmente vale a pena e estabelecendo a felicidade em seus verdadeiros pilares.

Wanda. Fevereiro 2011.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Despedida do TREMA

 Esta é pra deixar qualquer um pensando por onde anda sua criatividade.

Criatividade da Língua Portuguesa!... Despedida do trema.

É uma tremenda aula de criatividade e bom humor, por sinal, com acentuada inteligência.

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema.Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiféros, nas linguiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüentas anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de linguistas grandiloqüentes!...
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. O dois pontos disse que sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.
Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C medroso que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W "Kkk" pra cá, "www" pra lá.
Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...
Nos vemos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.
Adeus,
                         Trema.






Parabéns Bibi

Posted by Picasa


Bibi ou Mariah? Seu nome não posso errar.
Para Bianca, felicidades, agora vou desejar.
Alegria e charme sabe esbanjar,
Onde é que este seu jeito, na genética foi buscar?

Muitas possibilidades tinha, todas para escolher.
Papai, mamãe e titias, todos queriam oferecer.
Caprichosa a natureza, foi fundo recolher,
Dotes de tia Leslie em você fez florescer.

Apenas cinco aninhos dão pra perceber:
Esta menina vai longe,
No assunto ler e escrever,
Ninguém, nem nada, a pode deter.


Mil beijos da vovó coruja,
Neste dia vai receber,
Pedindo a Papai do Céu,
Para sempre lhe proteger!


Vó Wanda 23/02/2011



















segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Reflexos dourados

Já estou sentindo os reflexos dourados em minha vida. Percebo que a cada dia ela está mais e mais preciosa. Poucas pessoas tem a felicidade de perceber reflexos dourados em suas vidas. Pretendo ver ainda reflexos  brilhantes.Obrigado Aninha, porque você, mesmo sem saber, presentiou-nos com esta linda reflexão.

 
Dois corações se entrelaçam
olhares se encontram
cupido impiedoso
o amor explode!
Caminhada árdua
encontros e desencontros
semente lançada
germina a vida
parceiros da criação
renovação crescimento
caminhada, lágrimas e risos
bareiras a transpor.
Cansaço? só um instante.
Soluço contido no peito por um tempo que já foi.
Seguir em frente, jornada segura,
no leme do Criador.
Leque de esperança,
sorrisos que se abrem em flor.
Seguem em frente superando a dor.
Transbordam o ser, sem perder, só ganhar,
falam tudo no silêncio daquilo que não se diz.
Embora ausentes
se fazem presentes
iluminando a escuridão.
Ensinam a partilha
do amor doação.
Sois porto seguro na provação,
certeza de sempre ter proteção.
Final de colheita, fim de jornada,
Merecido descanso
Dessa caminhada
Os anjos se alegram
e o vento do tempo
só não leva o amor gerado e frutificado
nas entranhas de Deus Nosso Senhor.

Ana Isabel Paiva Ramos Publicado no livro "Antologia 2009" do movimento "Saber e Sabores" de S. Gonçalo do Sapucaí.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um dia tão esperado

Olívia é uma garota de sete anos, alegre cheia de vida e com uma agitação muito própria. Foi convidada para ser dama de honra do casamento de uma prima. A partir daí brotaram seus sonhos.
–Vou ser dama de honra do casamento de Dani, junto com a amiga que mais gosto, nem acredito! Não consigo ver este dia chegar. Dizia Olívia
Embora faltasse apenas dois meses para a cerimônia, as duas garotas sentiam como se fosse uma eternidade. Quanto mais próximo da data, maior era a expectativa. Neste período as brincadeiras passaram sempre a ser de: noivas entrando na igreja, festas muito animadas, elas, porém, eram sempre as damas.
Viajavam até uma cidade vizinha, onde estava sendo confeccionado o vestido da noiva e o das damas. Ficavam dias planejando a viagem no sábado, para a prova. Chegado o dia da prova dos vestidos, já se constituía uma festa. A ansiedade e a agitação as tornavam mais inquietas que nunca.
-Esta costureira que não aparece! -Será que vai dar tudo certo? Que demora meu Deus!
Durante a prova da toilet já desfilavam como se fosse o dia esperado. Tudo parecia um conto de fadas! Cumprida esta primeira tarefa, agora era hora de aproveitar o resto do dia. Um bom restaurante, conhecer a nova amiga, a prima do noivo, que também seria dama. Brincar no parquinho, tomar sorvete... Tudo acontecia como uma festa preliminar, para Olívia e Bia. As emoções eram muitas para aquelas duas primas, tão amigas.
As brincadeiras de noivas, damas e casamento aconteciam cada vez com mais freqüência. Era um momento de sonhar que imitava o que em breve seria real.
Último dia da prova, noiva e damas estavam vestindo o mais exigente modelo do momento, tudo perfeito, conforme manda o figurino. Estavam encantadoras. Nada foi negligenciado. Tudo valeu a pena: as brincadeiras, o sonhar acordadas, as viagens, as provas... Agora era só esperar pelo dia tão sonhado.
O tempo passa... Finalmente chega o grande dia! Todos em traje de gala estão apostos para, na igreja participarem do momento espiritual do enlace. É um momento mágico, envolvente. Todos parecem revestirem do amor que está unindo o casal. O amor envolve a todos, como aquele ajuste fino do instrumento, que embeleza e harmoniza o ambiente, completando o encantamento. A música anuncia: é a hora da entrada. As meninas irradiam alegria. Apesar de tantos ensaios, agora se sentem embaraçadas com a presença dos convidados. Passo a passo, sorriso um tanto quanto desconcertante, muita, muita emoção, vão as três meninas percorrendo o caminho, que nunca pareceu tão longo. Todas as crianças mereciam ter um momento de tamanha felicidade em suas vidas. São estes os momentos que sempre que relembrados, conseguem trazer as emoções vividas e felicidade a nossas vidas. Aconteceu a cerimônia com o requinte que o momento exige: triunfal entrada, as palavras emocionantes do padre, a saída jubilosa, os cumprimentos.
Era o momento de receber os amigos. Os convidados são direcionados para o salão de festas. Agora é só descontração e alegria. Amigos e parentes se encontram e se comunicam com grande entusiasmo. As crianças perdem a rigidez exigida no momento religioso. Soltam-se em brincadeiras cheias de energia. Tudo correu como programado. Agora era só aproveitar a festa. Mas é exatamente nestas horas de tamanha descontração e despreocupação, que as surpresas costumam acontecer. Olívia, Bia e mais algumas crianças convidadas, corriam pelo salão. Inesperadamente, Olívia desequilibra sobre a mesa do café, colocada com todo requinte, ali na saída do salão de festas. Um forte barulho assusta os convidados. Alguns se aproximam para ver o que havia sucedido. Docinhos, balinhas, lembrancinhas, xícaras e taças foram para os ares. Nada ficou para contar a história. Restou sim, um enorme constrangimento, a vontade de sair correndo de esconder debaixo da mesa, de se proteger ao lado dos pais, de estar em qualquer lugar... mas ali, debaixo dos olhares de repreensão dos muitos convidados, que se achegaram, ali não. Mas era ali que estava. Desapontada, cabisbaixa, com muitas lágrimas nos olhos e o rosto ardendo, afogueado, Olívia se dirige para a mesa de seus pais e ali fica por um bom tempo. Agora, já bem contida e envergonhada, passa os últimos momentos da festa em total recolhimento. Seu desejo era ir embora. Livrar-se daqueles olhares que tanto a incomodaram, naquele final de festa. O corpo aquietara, mas, em sua cabeça infantil, mil pensamentos rodopiavam como se fosse um filme passando em alta velocidade.
Finalmente é chegada a hora de voltar para casa. Muitas lembranças registradas como já era de se esperar. Aquela lembrança, porém... Aquele acontecimento, quase encerrando a festa. Aquele acontecimento que não sugere outra palavra senão desastroso, irá lhe corar o rosto por muito tempo, até que passe a provocar boas risadas.
Em casa, deitada em sua cama, só consegue ter à mente o maldito, ou bendito, acontecido tão desastroso. Foi assim que, naquele dia, viu o sol raiar, sem conseguir adormecer.
Ela desconhece as artimanhas do tempo que, ao passar, vai deixando no esquecimento nossas atitudes desconcertantes e fazendo ressurgir os momentos alegres.
                                                                       Wanda.Fevereiro de 2011.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mais perdido que cão em mudança




Para quem não gosta de cães os acontecimentos ocorridos neste verão a meu redor foram no mínimo impactantes.
Há alguns meses, junto com Vânia, minha filha, Cristiano, meu genro, Gú meu neto, veio morar em minha casa uma cachorra chamada Fera. O combinado, por telefone, é que a família e seus pertences viriam por alguns meses morar em casa, até concretizar a estabilidade do novo emprego do genro que viria a acontecer no final do verão. Nada se falou a respeito da Fera, mas ela estava incluída no pacote. Não sei quem ficou mais desajustada com a situação eu ou a Fera.
Fera é uma cadela não muito grande, de pelo negro, sem uma raça definida e não se pode dizer das mais bonitas. O impacto que Fera causou na redondeza foi muito frustrante. Aquela família que tinha cuidados especiais com a cachorra não percebeu ao certo o quanto ela era assustadora. As exclamações arrancadas das pessoas começou a dar a dimensão exato do quanto o animal era assustador.
Ao entrar em uma papelaria, certo dia, antecedendo à Gú seu dono alguém exclama assustado:
- Que bicho horrível, parece um morcego!
Quando Vânia aparece a pessoa desapontada tenta amenizar a exclamação dizendo
- Até que pensando bem ela não é tão feia assim. Mas já estava dito e o pior é que era verdade.
Minha cunhada, ao se deparar com aquele animal tão assustador entrando em seu estabelecimento comercial exclama:
- Que horror, de onde saiu este animal de aparência tão esquisita?
Alguém diz:- É de sua sobrinha Vânia, que mudou-se para a rua nestes dias!
Minha cunhada responde:- Vocês estão enganados, não é possível Vânia não adotaria um animal tão horrível.
E era verdade, era a própria Fera, até então acostumada com agrados da família de Gú, no apartamento onde moravam em uma cidade vizinha. Na nova situação a vida do animal virou de cabeça para baixo.
Habitava agora em um lugar bem mais espaçoso, mas que não tinha um lugar definido para si, os donos pouco lhe davam atenção por nunca estarem em casa. Você já ouviu a expressão: “Mais perdido que cachorro em mudança”? Era a própria. Se o animal pensasse pensaria:- A dona da casa não é das mais amigáveis, meus donos desapareceram, eu não tenho onde reclinar a cabeça, então vou cair no mundo. Foi o que fez Fera. Corria de um lado para outro, não sei se procurando ajeitar-se em algum lugar ou se encantada com a nova situação.
Mas “cão que muito mexe...” certo dia Fera foi atropelada por um carro. Sem perceber atingiram-lhe a parte traseira. Neste dia Fera voltou a ter a atenção com a qual estava acostumada. Mas como “bicho ruim também não morre” em pouco tempo Fera estava restabelecida. Agora mais assustada ainda, andava de um lado para outro pelas ruas da cidade.
Desprezando a ração que lhe era oferecida, Fera começou a freqüentar um “restaurante próprio”, num trailer da rua de cima. Agora já havia feito amigos e estes lhe ofereciam algo a mais que aqueles detestáveis grãos de ração.
Certo dia, inesperadamente, os pais de Cris que haviam dado o chorinho para o Gú encontraram Fera a caminho do restaurante. Era uma noite chuvosa. Este casal tem uma atenção muito especial com cachorros. Sem saber para onde Fera se dirigia, sem hesitar diante daquela situação acolheram o animal em seu carro e levaram-na para o Carmo, cidade para onde se dirigiram, a fim de passar o final de semana. Aqueles dias foram verdadeiros dias de princesa para o animal. Fera tomou banho, dormiu no meio do casal, foi acariciada, agasalhada e paparicada.
Em casa surgiram os mais variados sentimentos. Os donos pareciam querer Fera de volta. As outras pessoas diziam:
- Ela está assustando os fregueses de minha loja, que dizem não voltar mais até que esta cachorra desapareça
-Estou cansado de recolher fezes deste animal, correndo de um lado para outro em meu estabelecimento!
Realmente não sabíamos se desejávamos sua volta ou se desejávamos seu sumiço.
Domingo, à noite, estávamos todos na sala de visita, dando boas risadas com as vídeo cacetadas do Faustão, quando fomos interrompidos pela entrada agitada e saltitante de Fera. Houve um susto geral e uma interrogação no olhar de cada um. Foram quatro dias de sumiço e agora de onde estava surgindo aquele ser assustado e irrequieto?
As palavras de acolhimento foram as mais variadas:
- Fera de onde você veio?
- Deus me livre de onde saiu isso?
- Vem cá Ferinha meu amor, dá um abraço.
- Pensei que fosse ficar livre de você!
E assim foram muitas as exclamações.
Depois de alguns minutos surgem os pais de Cris dando a notícia do seqüestro e a sua justificativa. Acharam que fera estava sendo mal tratada na nova morada e que tiveram muita pena, ao vê-la na noite chuvosa, parada na esquina. Foram quatro dias de suspense.
Mas não parou por aí. Como a vida dos cães tem uma dinâmica bem mais acelerada que a dos humanos... Agora Fera já era um cão adulto. Teve seu primeiro cio sem que percebêssemos. Mas os cães da redondeza estavam atentos. Certo dia encontro, com uma cara de “estou amando”, subindo as escadas, Fera e seu primeiro parceiro. Impressionou-me a cara de felicidade do casal. O parceiro tinha uma raça definida parecia muito orgulhoso da conquista e demonstrava querer protegê-la. Eles formaram, a bem da verdade, um simpático casal. Este encontro lembrou-me um casal que sempre encontro, ela a tiracolo, com aquele garanhão de braços semi abertos e demonstrando uma vaidade sem fim, parece querer protegê-la, não sei de que. É, os animais tem mais a ver com os homens do que possamos imaginar. Também os humanos tem mais a ver com os animais do que possamos acreditar. Muitos outros cães compareceram, marcaram presença durante aquele cio. Inesperadamente, certo dia, vi minha casa invadida por uma procissão de cães de diversas raças e tamanhos. Não preciso dizer do susto que me causou. Até “Pingo”, um enorme cão de guarda, de nosso pátio tentou se fazer presente, mas não conseguiu. Os tamanhos não bateram, mas ele ficou de guarda organizando a procissão.
Depois de tudo depois do amor, fica a interrogação:
- Que surpresas teremos dentro de três meses?
- Quantos serão?
- A quem sairão?
Pois não é que, nestes dias chuvosos, Fera se põe dentro da casa de Pingo, talvez desejando atribuir-lhe a paternidade das crias e trouxe ao mundo três novos e peculiares cães. Neste exato momento já se encontram roliços e descobrindo o mundo a seu redor.
Os donos já se encontram de mudança para a cidade grande. Pouco ou nada dão de atenção para os animais. Se um já foi o bastante para assustar-me, hoje são quatro. Estamos nós aqui, com este belo presente, que certamente será oferecido, no momento da mudança.
Agora é aprender a amar os animais... Ou não.

Wanda - Janeiro de 2011