sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um dia tão esperado

Olívia é uma garota de sete anos, alegre cheia de vida e com uma agitação muito própria. Foi convidada para ser dama de honra do casamento de uma prima. A partir daí brotaram seus sonhos.
–Vou ser dama de honra do casamento de Dani, junto com a amiga que mais gosto, nem acredito! Não consigo ver este dia chegar. Dizia Olívia
Embora faltasse apenas dois meses para a cerimônia, as duas garotas sentiam como se fosse uma eternidade. Quanto mais próximo da data, maior era a expectativa. Neste período as brincadeiras passaram sempre a ser de: noivas entrando na igreja, festas muito animadas, elas, porém, eram sempre as damas.
Viajavam até uma cidade vizinha, onde estava sendo confeccionado o vestido da noiva e o das damas. Ficavam dias planejando a viagem no sábado, para a prova. Chegado o dia da prova dos vestidos, já se constituía uma festa. A ansiedade e a agitação as tornavam mais inquietas que nunca.
-Esta costureira que não aparece! -Será que vai dar tudo certo? Que demora meu Deus!
Durante a prova da toilet já desfilavam como se fosse o dia esperado. Tudo parecia um conto de fadas! Cumprida esta primeira tarefa, agora era hora de aproveitar o resto do dia. Um bom restaurante, conhecer a nova amiga, a prima do noivo, que também seria dama. Brincar no parquinho, tomar sorvete... Tudo acontecia como uma festa preliminar, para Olívia e Bia. As emoções eram muitas para aquelas duas primas, tão amigas.
As brincadeiras de noivas, damas e casamento aconteciam cada vez com mais freqüência. Era um momento de sonhar que imitava o que em breve seria real.
Último dia da prova, noiva e damas estavam vestindo o mais exigente modelo do momento, tudo perfeito, conforme manda o figurino. Estavam encantadoras. Nada foi negligenciado. Tudo valeu a pena: as brincadeiras, o sonhar acordadas, as viagens, as provas... Agora era só esperar pelo dia tão sonhado.
O tempo passa... Finalmente chega o grande dia! Todos em traje de gala estão apostos para, na igreja participarem do momento espiritual do enlace. É um momento mágico, envolvente. Todos parecem revestirem do amor que está unindo o casal. O amor envolve a todos, como aquele ajuste fino do instrumento, que embeleza e harmoniza o ambiente, completando o encantamento. A música anuncia: é a hora da entrada. As meninas irradiam alegria. Apesar de tantos ensaios, agora se sentem embaraçadas com a presença dos convidados. Passo a passo, sorriso um tanto quanto desconcertante, muita, muita emoção, vão as três meninas percorrendo o caminho, que nunca pareceu tão longo. Todas as crianças mereciam ter um momento de tamanha felicidade em suas vidas. São estes os momentos que sempre que relembrados, conseguem trazer as emoções vividas e felicidade a nossas vidas. Aconteceu a cerimônia com o requinte que o momento exige: triunfal entrada, as palavras emocionantes do padre, a saída jubilosa, os cumprimentos.
Era o momento de receber os amigos. Os convidados são direcionados para o salão de festas. Agora é só descontração e alegria. Amigos e parentes se encontram e se comunicam com grande entusiasmo. As crianças perdem a rigidez exigida no momento religioso. Soltam-se em brincadeiras cheias de energia. Tudo correu como programado. Agora era só aproveitar a festa. Mas é exatamente nestas horas de tamanha descontração e despreocupação, que as surpresas costumam acontecer. Olívia, Bia e mais algumas crianças convidadas, corriam pelo salão. Inesperadamente, Olívia desequilibra sobre a mesa do café, colocada com todo requinte, ali na saída do salão de festas. Um forte barulho assusta os convidados. Alguns se aproximam para ver o que havia sucedido. Docinhos, balinhas, lembrancinhas, xícaras e taças foram para os ares. Nada ficou para contar a história. Restou sim, um enorme constrangimento, a vontade de sair correndo de esconder debaixo da mesa, de se proteger ao lado dos pais, de estar em qualquer lugar... mas ali, debaixo dos olhares de repreensão dos muitos convidados, que se achegaram, ali não. Mas era ali que estava. Desapontada, cabisbaixa, com muitas lágrimas nos olhos e o rosto ardendo, afogueado, Olívia se dirige para a mesa de seus pais e ali fica por um bom tempo. Agora, já bem contida e envergonhada, passa os últimos momentos da festa em total recolhimento. Seu desejo era ir embora. Livrar-se daqueles olhares que tanto a incomodaram, naquele final de festa. O corpo aquietara, mas, em sua cabeça infantil, mil pensamentos rodopiavam como se fosse um filme passando em alta velocidade.
Finalmente é chegada a hora de voltar para casa. Muitas lembranças registradas como já era de se esperar. Aquela lembrança, porém... Aquele acontecimento, quase encerrando a festa. Aquele acontecimento que não sugere outra palavra senão desastroso, irá lhe corar o rosto por muito tempo, até que passe a provocar boas risadas.
Em casa, deitada em sua cama, só consegue ter à mente o maldito, ou bendito, acontecido tão desastroso. Foi assim que, naquele dia, viu o sol raiar, sem conseguir adormecer.
Ela desconhece as artimanhas do tempo que, ao passar, vai deixando no esquecimento nossas atitudes desconcertantes e fazendo ressurgir os momentos alegres.
                                                                       Wanda.Fevereiro de 2011.

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