sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A água do mar é salgada

                                            
Hoje em dia muitas pessoas provam o sal do mar "in loco". Não foi sempre assim. Em outros tempos apenas uma camada da sociedade tinha o privilégio de realizar esta façanha, durante o verão. Minha vó passava os três meses do verão na cidade de Santos e nós crianças íamos em tempos alternados, para que todos pudessem aproveitar. Éramos em 27. Mineiro tem que ir à praia. É mesmo uma obrigação.Complexo de quem não tem praia no estado. Mesmo que não se vá tomar banho de mar, por não gostar do sol forte, da areia que gruda, do grande movimento que se estabelece nestes locais, queremos e gastamos muito de nossas reservas com isso, para estar lá, seja verão, seja inverno. Hoje é assim.

Existe um Rio que não é o Rio das novelas, dos artistas, dos turistas, dos afortunados, mas é um Rio de Janeiro novo, que vem surgindo, há algum tempo, do lado de lá do túnel. São pessoas com posses moderadas, gosto mais suburbano, com grande espírito de coletividade.
Tanto lá como cá, a cidade é rodeada, de todos os lados, por enormes favelas. Nisto zona sul e zona norte são iguais. O mais, coisas como: modo de vida, planos, possibilidades se divergem bem. A novela da globo "Avenida Brasil" está retratando tudo isso, que estou dizendo, e muito bem.

Uma semana no Rio de Janeiro e finalmente surge a oportunidade de um passeio à praia. Alegria para os mineiros.
- Hoje vamos aproveitar o dia e usufruir das coisas boas da cidade maravilhosa. Disse o Cris.
- Este dia ensolarado de inverno está convidando a trajes de praia. Não se demorem porque a caminhada será longa. Disse Van.
Em poucos instantes a "família do Tufão" se aninha em dois carros e rumo a zona sul para desfrutar de seus tão proclamados prazeres.
-Vamos à praia do Leblon quero ver se a água do mar de lá é mais salgada do que os outros. Dizia Vó Wanda.
- Eu também, concordavam as crianças muito animadas.
-Nós vamos a um barzinho próximo, bem interessante, diziam alguns adultos. Estava armada a diversão do dia de sábado.
Percorrido uma grande distância, com dificuldades no transito e inquietação das crianças, estacionamos em um lugar que seria bom para todos. Alguns rumo ao tal barzinho interessante,(não consegui descobrir o porque, a não ser pelo alto valor da conta) e nós para as famosas praias do Leblon.
-Eu armo a barraca, propôs Cris, pra não chama-lo de Tufo, o dono da casa,acompanhado do visitante.
-Vamos ao mar! Gritavam as crianças, num frenesi pelas novidades que surgiam, uma após outra.
Logo pudemos observar o passeio das celebridades.
-Olha aquele artista da Tv, quem se lembra o nome dele? E aquele outro, e outro ? Foi assim um desfile de celebridades premiando e surpreendendo os interioranos e pouco alterando para os moradores do lugar.
Vovó debaixo da barraca observava tudo.
- Rê você está muito distraída com estas crianças, inquietava-se Vovó. O mar é traiçoeiro e com ele não se pode brincar.
- Calma minha mãe, tudo está sob controle.
Mas não estava. A própria Rê se encantava com tudo que via e observar, as crianças era um detalhe. Depois de algum tempo ela disse:
-Vamos para a areia tomar um sorvete? Este era o único convite que os tiraria dali. Saíram cansados mas ainda muito animados.
- Ufa! Agora posso descansar um pouco, pensa vovó. Mas não. Agora há a possibilidade de estas crianças se perderem em meio a esta multidão. Aqui seria "cada um para si e Deus para todos". Acho que não encontraria aqui solidariedade.
- Preciso ir a um lugar, para atender às minhas necessidades biológicas, pensa Vovó. O barzinho está distante, vou ao mar! Isso mesmo! Ali, muitas pessoas aliviam suas necessidades e ele está, logo ali, tão perto. Uma solução simples e cômoda. Caminha até as águas espumantes. Tudo parece tão gostoso. Agora não preciso me preocupar com as crianças é só aliviar, refrescar e aproveitar o momento. De repente, um mínimo de descuido, lá vem uma onda mais forte e lá estava a Vovó que pensava estar tomando conta das crianças, descuidada consigo mesma, rolando de um lado para outro, na quebrada das ondas, rindo de nervoso, porque não conseguia se levantar.
-Socorro Gu! Estou me afogando. De-me sua mão!
O pobrezinho quase vai junto. Era uma criança, não tinha força suficiente. Era uma "baleia" rolando de um lado para outro e um "lambarizinho" tentando ajudar. E as incansáveis ondas não paravam de quebrar. E a "baleia" rolava de um lado para outro.
- Vá chamar tia Rê Gu! Mari, mais esperta, sai correndo. - Tia, a Vovó está precisando de ajuda, por favor.
-Espera que estou acertando com o sorveteiro! E o tempo passava e a baleia rolava de um lado para outro.
- Sorveteiro, seu sorvete está muito caro, são muitas crianças e ele está 4 vezes mais caro que em minha cidade. E a pechincha, tanto quanto a baleia, rolava solta. 
De repente, Rê se vira para trás!
-O quê? O quê está acontecendo? Que é isto que estou vendo? Sai correndo com a bolsa e o dinheiro em uma das mãos e estendia a outra para dar socorro. A esta altura a "baleia" já havia provado a água do mar por diversas vezes, e ela era na verdade muito salgada.
-Levanta! -Levanta! - Vamos, força! E nada, a cada tentativa uma forte onda quebrava levando as esperanças de um salvamento bem sucedido. Pelas risadas de Vovó Baleia e aquela filha com uma só mão dava a impressão de ser uma brincadeira.
Felizmente, uma pessoa com melhor percepção, fortes músculos e uma boa dosagem de solidariedade, vem de encontro, empurra pelas costas e o susto termina em uma boa história para se contar. 
Em poucos instantes estávamos todos de volta ao barzinho, onde alguém logo desafia: 
- Quero ver esta história escrita no jornal.
 Está aí! Quantas histórias como esta tiveram o mesmo final feliz? Quantas não tiveram este mesmo final?
E é sempre assim a nossa visita ao traiçoeiro mar, que nos hipnotiza e nos convida a voltar, para provar se a água que ali está é realmente salgada.
A volta para o "além túnel" foi o verdadeiro passeio, que por bom tempo nos  encantou com as já conhecidas paisagens que tornam o Rio de Janeiro a eterna cidade maravilhosa, independente de estarmos do lado de lá ou de cá do túnel, independente de sermos os interioranos ou suburbanos, artistas ou intelectuais, independente de qualquer dependência que o ser humano queira colocar. O Rio de Janeiro feito como tal, em seus acidentes geográficos, em seu posicionamento no país é a verdadeira expressão da grandiosidade do Deus na criação.
                                                                 Wanda. Agosto 2012.
 






























































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